quarta-feira, 22 de agosto de 2012


Eu te amo.


Para os caminhos todos,
por onde, em vida, ando:
Eu te amo.
As canções todas,
por estufado o peito canto:
Eu te amo.
Pelos paços todos,
da canção que eu danço:
Eu te amo.
Para os grãos todos,
da comida que eu como:
Eu te amo.
Para as noites todas,
em que me pega o sono:
Eu te amo.
Para as manhãs todas,
que me toma o trabalho:
Eu te amo.
Para o amor todo,
que eu mesmo amo:
Eu te amo.

Ramon C.
22-08-2012
Para Ela.

domingo, 12 de agosto de 2012



Poemeto em ditongo crescente.


Entre os livros, ela corria,
Atrás da Lia...
E meu sorriso surpreendia,
Enquanto a via.
Enquanto mais eu lia,
mais me perdia,  
O que eu sou eu não seria,
Não fosse a Bia.

Ramon C.

sábado, 11 de agosto de 2012

O som doce da flauta doce.
Obs: ler em voz alta.

                Era só rígido metal dourado em forma fálica. Entretanto, em sua boca, com o toque de seus dedos acetinados pelo tingimento cor pérola nas unhas, ficava doce a flauta doce. Lia a partitura encantada, e o meu encanto, misturava ao canto oculto de tantos outros cantos de outros tantos que a admiravam embebidos, ou bêbados, balançando como marujos ao som doce, da flauta doce.
                Era eu só. Entretanto, embebido, ou bêbado, pelo encantamento dela enquanto o canto da flauta doce alcançava todo canto, era eu marujo em suave balanço de maré. Não estava só. Eu e meu acarajé quente, logo esfriamos. Frígido, frívolo, fácil. Era eu, fácil e complexo. Não tinha lugar e ninguém me procurava. Os rostos passavam por mim como repetidas claves de Sol, em Sol e em Mi, repetidos, rostos iguais a outros tantos. Era eu e só a flauta doce naquelas mãos fazia sentido enquanto o balanço dos rostos repetidos me enjoava. Atenuava o gosto e os rostos o que eu sentia. Mais era mais bom do que doía, entretanto, doía.
                - Oi, tudo bem?
                -Oi, não quero papo.
                -Oi, está barato!
                -Oi, não quero papo.
                -Oi, dou-lhe beijos.
                -Oi, não quero papo.
                -Oi, quanto tempo!
                - De melancia, não quero papo.

                Eram eles unidos. Embriagados, a maioria dançava mais do que os que estavam apenas embebidos pelo som doce da flauta doce. Pelo som em Sol, em Mi, em ti.
                Era você e só. Um amontoado de livros, umas palavras, argumentos, métricos, destoavam em silêncio da maioria. Era você crescendo, cismando, errando por um mundo não apenas teu. Eram tuas crenças, teus anseios, os teus beijos mortos. Lábio que não beija não tem razão de ser.
                Era o ser e eu. Voltei pra casa renovado.

Ramon C.
11/08/2012
O texto do Des.

Dez vezes eu quis.
Desquis.
Dez vezes tentei.
Destento.
Dez vezes eu fiz.
Desfiz.
Dez vezes andei.
Desandei.
Dez vezes liguei.
Desliguei.
Dez vezes rezei.
Desrrezei.
Dez vezes aceitei.
Desaceitei.
Dez vezes sorri.
Dessorri.
Dez vezes tolhido.
Destolhido.
Dez vezes amei:
Amo.
Dez vezes descansado.
Cansado.
Dez vezes desentristecido.
Entristecido.

Ramon C.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012


Balanço sobre a fofoca a meu respeito.

Disseram por aí que agora eu ando tropeçando em minhas pernas. Que falo sozinho e que sempre ando com flores nas mãos. Que especulo o preço dos chocolates,  que abro a porta do carro duas vezes. Disseram por aí que só ando do lado direito da calçada e espero a oração antes do almoço. Disseram por aí que eu sonho com telefonemas e passo uma, duas, três, seis horas pendurado no telefone. Andaram dizendo que decoro poemas dos outros e escrevo meus próprios poemas. Que planejo ter um apartamentinho, com cômodos pequeninos por conta do meu salário de professor, mas que os planos pra esse universo em miniatura são um universo do tamanho do universo. Disseram por aí que eu faço texto com um único parágrafo porque me mantenho no mesmo assunto, quase sem fôlego, até o final. E por falar em fôlego, que depois de um beijo sempre tenho perdido a noção de tempo e espaço. Tem gente dizendo que não tem nada que eu não faça rindo e que tenho feito loucuras! Dormido pouco, e, feliz, rido com os meninos pequenos pensando que um ou outro poderia ser, no futuro, um filho meu com ela.  Dizem que eu decoro uma casa imaginária todas as vezes que passo em frente a uma liquidação de loja de departamento e que tenho revirado meus DVDs antigos procurando filmes que ela ainda não viu para ver de novo, mais esperando as ações dela do que a próxima claquete. Dizem por aí que eu temo o medo dela, que preocupo com a fome dela. Que vivo repetindo “ você já comeu? Você já dormiu? Você está com sede? Está de mau humor?” Disseram que eu mudei de uns tempos pra cá e tenho sido filho melhor, irmão melhor, aluno melhor e até melhor professor. Disseram, com toda a razão.

Ramon C.
08/08/2012