quarta-feira, 30 de abril de 2014

o futuro, quando vier,
(se é que virá)
traga o meu passado cru, como ele existe,
em uma sacola simples e bem cuidada.
distribua sobre uma mesa um destino ao contrário.
nem concreto, nem glorioso.
possível.
intenso, talvez.
quando este futuro vier ( se é que virá)
possa servir-se do meu corpo então mais lento
com gestos que lembrarão dançarinos ou gente que pratica feng shui.
que o futuro perceba meu corpo, que, ao passar do tempo, preparar-se-á
para o futuro, com os toques esculpidos pela ação da vida.
quando o futuro vier, sinta-se à vontade em me chamar “velho”
e ouça, com gente jovem a nossa roda,   
as histórias pouco emocionantes de uma vida amiúde
não se vive uma vida para glorias,
ou mistérios da existência.
vive-se, tão somente,
para o matrimônio com o futuro,
que, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto,
beija a nossa mão, embeleza a nossa cara.
enfeia nossos cabelos.
o futuro, que é tão certo quanto a morte,
possa vir tão vivo como a memória de gente velha.

memória.
ramoncabril2014.

domingo, 27 de abril de 2014

estava tomando os meus analgésicos para aguentar o tranco que vem dos outros.
porque, nesse mundo de gente saudável, o melhor remédio é se entupir de atenuantes!
açúcar! açúcar! não me sirvam porra nenhuma sem açúcar...
não, não ! açúcar não! melhor um aspartame que é, disseram gente sabida que vende drogas legais, um adoçante 150 vezes mais doce do que açúcar.
e, enquanto a moral proíbe de tudo, a gente soca adoçante em tudo... enquanto enfrenta a vontade louca de mandar pra dentro um tiro de cocaína. 
tá todo mundo ajustado a esse planeta justo!
puro!
branco igual a todo material sintético.
aí de você que sai do padrão. não! não é moralismo... é questão de certo e errado! 
de acertar o reloginho, de entrar no horário, de estar alinhado.
igual a um texto por encomenda! "Ah, moço... Faz uma poesia pra mim... Metrificada, tá!? Ajustadinha! Jura, jura que vai ter métrica!? Vai ser um soneto!? Ah, aí, depois.... Eu te ponho num lugar bonito... Um lugar de machão, ahhh, você vai ficar lindo"
lindo!
por favor, aumentem a dose do meu analgésico. 

ramon n•2
ramonchavesabril2014

sábado, 26 de abril de 2014

ela tirou da caixa dos desejos (ocultos) palavras com significante sem significado.
pensou que se pusesse nos seres etiquetas, fáceis de decorar como tabelas, poderia ser livre. mesmo sem admitir a liberdade.
porque, nesse mundo saudável, dizer eu “te amo” dói menos (embora se tenha que justificar mais) do que dizer “sou livre”.
ela foi a uma sessão de análise com seu gato,porque ele era o mais adequado (infelizmente) para tocar-lhe as pernas. e se outro-outro a tocasse com língua ou às bocas como era seu gosto (ou seus desejos que, já sabemos, são ocultos) ela sentia-se culpada.
e a culpa é um bálsamo quando as etiquetas vazias penduradas no pescoço de alguém não fazem o menor sentido. e sentidos, como sabemos, não andam com ela de mãos dadas.
ela precisava fugir urgentemente! para longe daqui! para longe de si.
tentou comprar uma passagem para novaiorque porque lá, dizem, o frio é intenso demais para se pensar na vida.
tudo deu errado, afinal, não se vendem passagens para fora do que se é. sabemos, a vida é feita por escolhas, mas as que mais doem são aquelas que ,aparentemente, não se podem voltar atrás, porque há um desejo primordial, um desejo que ultrapassa todos os outros, em Freud e em Goya vemos isso, os homens desejam ser amados.
mas ela ainda não significou a palavra amor.
à noite. ela vai pensar em mim, com raiva...mas vai.
lacaniana nº3

ramoncabril2014.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

"Ela chegou, tão delicada que mal pude ouvir seus passos.
 mas trouxe um furacão que bebemos com cerveja.
falou dos preconceitos, das ditaduras e da doçura que é ter uma mão sobre a minha.
fez da vida um milagre. me lembrou de Deus... nem quero viajar...
Ela é um oceano inteiro"

ramon
ramoncabril2014

terça-feira, 15 de abril de 2014

seria, talvez, objeto da transferência freudiana,
ou lacaniana ...
fonte de poder estabelecida no e pelo poder , baseado em Foucault
ato de violência simbólica num querer pra si tão intenso , de Pierre de Bourdier
invenção da sociedade burguesa, em Marx 
representação patriarcal, em Simone de Beauvoir
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mas era outono.
assumiu todos os riscos e foi beijada...

mas era outono.
ramonchavesabril2014