o futuro, quando vier,
(se é que virá)
traga o meu passado cru,
como ele existe,
em uma sacola simples e bem
cuidada.
distribua sobre uma mesa um
destino ao contrário.
nem concreto, nem glorioso.
possível.
intenso, talvez.
quando este futuro vier ( se
é que virá)
possa servir-se do meu corpo
então mais lento
com gestos que lembrarão
dançarinos ou gente que pratica feng shui.
que o futuro perceba meu
corpo, que, ao passar do tempo, preparar-se-á
para o futuro, com os toques
esculpidos pela ação da vida.
quando o futuro vier, sinta-se
à vontade em me chamar “velho”
e ouça, com gente jovem a
nossa roda,
as histórias pouco
emocionantes de uma vida amiúde
não se vive uma vida para
glorias,
ou mistérios da existência.
vive-se, tão somente,
para o matrimônio com o
futuro,
que, dia a dia, hora a hora,
minuto a minuto,
beija a nossa mão, embeleza
a nossa cara.
enfeia nossos cabelos.
o futuro, que é tão certo
quanto a morte,
possa vir tão vivo como a
memória de gente velha.
memória.
ramoncabril2014.