sábado, 23 de novembro de 2013

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

amo-te como se não te amasse, porque , amando-te, quereria, em verdade, tapar um buraco meu,
um desejo meu,
um sonho meu,
uma vaidade minha...
amo-te como amo àquela árvore porque ela sorri ao vento,
mas se eu disser que aquela árvore é minha, chamar-me-ão : louco!
eu não poderia amar-te, senão, como amo a toda a coisa viva, e não viva, e com todas as suas ausências,
amo-te hoje, e, se você mudar por completo,
por cisma,
por sina,
por raiva,
ainda mais te amarei, porque em verdade te amo como se não amasse o nada,
na mesma medida que o nada é, em suma, o princípio de um tudo que não se põe nome por não ter ideia da dimensão .
amo-te com a força do que ainda não se descobriu que existe, mas que não se tem expectativa sobre a existência.
não te amo como uma descoberta,
nem como uma procura.
amo-te como uma presença, tão viva, e reanimada a cada dia, que se esquece dela, e, quando alguém, por ciência, filosofia, crença, problematiza,
digo não ser necessário pensar sobre isso para continuar vivendo.
amo-te entranhada a mim, e tão a mim, que se viro no espelho e me vejo, não me reconheço.
digo que não, e que os outros estão maldando coisas a meu respeito.
não te amo como quem tem consciência sobre o amor,
porque ter consciência sobre o amor é chamá-lo outra coisa,
é preencher o que me falta...
eu não te amo porque tenho ausências.
nem porque me sobra.
mas porque está, e não se sabe quando começou e por isso não tem fim.
amo-te e amaria se não houvesse, e não há. e o não é o estado de espírito que mais pode preencher espaços vazios.
eu te amo como quem nunca ouviu falar sobre o amor, nunca desejou nada.
amo-te como quem procura uma palavra na ponta da língua e optasse pela reticência.
amo-te com quem lê um poema e não entende sobre ele , absolutamente...
mas se sabe que gostou.
amo-te como quando uma criança vê o mundo pela primeira vez e não espera absolutamente nada dele, porque entende que ela própria é o mundo todo.
amo-te como senão amor. senão amar. senão.

eu te amo senão. teamo.

ramoncnovembro2013.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

                ela não considera a possibilidade de andar no meio da avenida. tinha medo, pavor. a morte a incomodava pelo nome, pelo aspecto e pelas sensações. uma vez, uma tia sua morreu e ela não pôde ir ao velório. não que ela tivesse um afeto especial pela tia, aliás, conhecia-a muito pouco. de um bem casado aqui, um batizado ali, além disso, uma vez ouviu dessa tia “ mas essa menina não cresce?” e mais nada. o resto foi, “ o enterro é amanhã”. não quis ir. imagina ouvir as ladainhas, as piadas, as velas acesa. a presença da morte se fazendo viva em cada olhar daquelas pessoas que sabem, um dia irão morrer.
            se resfriava pouco, e para continuar assim, afinal de contas “ resfriados se transformam em pneumonias” ia ao médico periodicamente, tomava todas as vitaminas no horário correspondente, ia à academia mas não se esforçava muito para não baixar a imunidade. comia pouca gordura trans e costumava não aceitar desafios para não aumentar o nível de estresse. considerava-se em perfeito estado mental e, a vida tão regrada lhe trazia, supunha pouco desconforto. sua vida estava sempre em primeiro plano. morrer, passava-lhe tanto à cabeça que decidiu viver assim, sem dividir piscinas, picolés e beijos.
            a morte lhe trouxe outras paúras, como dizem os antigos. tinha medo do escuro e de ficar sozinha. aliás, tinha tanto medo de ficar sozinha e do escuro que, uma vez , enquanto transava, não fechou os olhos, nem teve orgasmo .

            ensimesmou-se tanto, cuidando-se tanto, e tanto, que nunca morreu. aliás... sequer viveu.

viver senão.
ramoncnovembro2013.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

119. Trees


THINK that I shall never see

A poem lovely as a tree.

  
A tree whose hungry mouth is prest

Against the sweet earth's flowing breast;

  
A tree that looks at God all day,
And lifts her leafy arms to pray;

  
A tree that may in summer wear

A nest of robins in her hair;

  
Upon whose bosom snow has lain;

Who intimately lives with rain.
  10
  
Poems are made by fools like me,

But only God can make a tree.


            amigo, tenho algumas respostas, finalmente, que nunca lhe dei. definitivamente Chopin é melhor que Debussy em estilo, técnica e sentimento. não há esquerda no Brasil. e , é verdade, os movimentos estudantis faliram.
            bati seu carro, perdão. eu vou consertar... eu juro que vou. andei enroscado até o pescoço com as dívidas, mas assim que der eu conserto...
            você tinha razão, esse negócio de mestrado é para homens fortes. eu não sei , ainda, veja só você, se tenho essa força toda. mas...
            obrigado pelo poema do kilmer que , tem pra mim,  nunca pude agradecer direito. aquele dia em que você, com tanto esforço, recitou pra mim. foi bonito. foi emocionante. a sua figura velha e cansada recitando coisas sobre Deus e as árvores... foi inesquecível. como tudo em você.
            são agora dois anos... e outros novembros virão.

obrigado.

ramon chaves.
                nesse novembro indeciso, ele colocou agasalho e regata dentro da mala de ir ao trabalho que , ultimamente, serve como pasta para todas as ocasiões. comia bem, ia ao teatro, conversava com as pessoas da rua com uma cortesia sem precedentes.tinha umas contas para pôr em dia e uns assuntos do passado que o rondavam. mas a causa da insônia tinha coxas bonitas, vestido que delicadamente desenhava o corpo e papo bom.
            não se dormia mal, propriamente, e nem se pode dizer que desejasse o contrário disso. mas, definitivamente, os sonhos eram intranquilos. era uma moça bela, e com sua conversa bela, chegavam às mãos unidas. depois, um beijo no rosto, um tapinha no ombro.
             - au revoir,
            - arrivederci.
            não se entendiam nos prólogos. eram só linguagem. e sonho. um dia planejou que , ao encontra-lá, enquanto dormia, diria “ e então, minha filha, vamos falar o mesmo idioma, por gentileza?”. de ansioso, não dormiu.
            viu-se tão chateado por não encontrá-la no sonho, que, para pôr fim nessa confusão, ligou pra ela.
tem dias que os dois não dormem.

tem dias que os dois não dormem.

ramoncnovembro2013.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

ser teu,
foi tão impossível, inaplicável, que não vingou nada. não veio chuva. estiou muito. morreu o gado. morreu o cajueiro. só via palma. mandacaru e cana de gente que não tem cara.  ser teu, não pude.
sertão.

sertão.
ramoncmovembro2013.

domingo, 3 de novembro de 2013


lista de coisas para se fazer antes de morrer:
item 1: viver.

item 1.

ramoncnovembro2013.


luto por uma cesta básica que , além de arroz e feijão, considere paixão elemento básico.
um salário mínimo que, no mínimo, me faça rir.
uma bolsa família, que na bolsa, tenha amor.
um assento preferencial que me prefira.
uma vaga para idosos que queira envelhecer comigo.
uma saidinha de presídio que me leve pro motel

paixão.
ramoncnovembro2013.
eu já estou tão marcado que não cabe um único rabisco de emoção. se , sem querer, eu ler um único poema, transbordo. se meus ouvidos teimosos ouvirem com atenção um verso de uma música boa, não caibo. se, meu olhos, de soslaio, pegam um traço bom de qualquer ser também já transbordado, inundo.

            eu não cabia em mim desse tamanho. tive de alargar à força, à fórceps, a minha figura no espelho. e hoje, o eu de dentro luta desacomodado nessa figura que , quando vejo, aos poucos vai se configurando em mim. se eu sorrir, que seja, rasgo o couro dessa crisálida e ninguém me reconhece, viro do avesso.se isso acontece,  tem pra mim, sangro, até viver. 

sangro até viver.
ramoncnovembrode2013.