quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

eu queria fazer um texto exorcismo. analgésico. amnésia. eu queria fazer um texto despacho. arrebatamento. um texto indulto. um texto libertação. eu queria fazer um texto conversão. um texto fuga. esconde-esconde. eu queria um texto, um último texto. eu queria fazer um texto aparelho do MIB do esquecimento. um texto estaca no coração do vampiro. um texto porre de cachaça. boa noite cinderela. droga pesada. atestado de loucura. eu queria um texto... pelo menos um... que me trouxesse um beijo.
mas para o amor ( ou para aquilo que vem depois que alguém vai embora) não se inventou cura.

um texto que não tem cura.

ramoncdezembro2013.

sábado, 21 de dezembro de 2013

            amor como eu pensei que era, não é.
            deus como eu pensei que era, não é.
            sexo como eu pensei que era, não é.
            beleza como eu pensei que era, não é.
            fidelidade como eu pensei que era, não é.
            verdade como eu pensei que era, não é.
            religião como eu pensei que era, não é.
            ela me dizendo "eu te amo" como eu pensei que era, não é.
            felicidade como eu pensei que era, não é.
            dinheiro como eu pensei que era, não.

            a linguagemente.

            ramoncdezembro2013.

domingo, 15 de dezembro de 2013

eu fiz um poema.
rápido.
seco.
lindo.
falava de você, da sua lembrança.
da tatuagem que fiz de você por dentro.
das comidas que experimentei por você.
eu revolvi fazer um poema sobre as curvas do teu corpo.
sobre os beijos  seus em mim, na boca, na nuca, no peito.
eu tentei, por horas, fazer um poema de verdade.
que tivesse a palavra primavera, a palavra amor. e que amor tivesse muitos sentidos.
na eternidade. na cama.
eu tentei te fazer um poema vulcão. erupção. que , ao ser lido, fosse potente como um soco no estômago.
quis muito te dar o sangue que escorreu daquele corte.
você não me suportou... “quem suporta quem?”
e quando eu te perguntei “você me quer?”
você disse “sim, mas não inteiro”
você me cortou como num açougue, porque, afinal de contas
os homens estão aos pedaços mesmo.
eu não sou uma gravura. e por dentro eu sou um vendaval.
não existem vendavais na primavera,
e, nesse poema, só coube dor.

um poema sobre mim.

ramoncdezembro2013.

sábado, 23 de novembro de 2013

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

amo-te como se não te amasse, porque , amando-te, quereria, em verdade, tapar um buraco meu,
um desejo meu,
um sonho meu,
uma vaidade minha...
amo-te como amo àquela árvore porque ela sorri ao vento,
mas se eu disser que aquela árvore é minha, chamar-me-ão : louco!
eu não poderia amar-te, senão, como amo a toda a coisa viva, e não viva, e com todas as suas ausências,
amo-te hoje, e, se você mudar por completo,
por cisma,
por sina,
por raiva,
ainda mais te amarei, porque em verdade te amo como se não amasse o nada,
na mesma medida que o nada é, em suma, o princípio de um tudo que não se põe nome por não ter ideia da dimensão .
amo-te com a força do que ainda não se descobriu que existe, mas que não se tem expectativa sobre a existência.
não te amo como uma descoberta,
nem como uma procura.
amo-te como uma presença, tão viva, e reanimada a cada dia, que se esquece dela, e, quando alguém, por ciência, filosofia, crença, problematiza,
digo não ser necessário pensar sobre isso para continuar vivendo.
amo-te entranhada a mim, e tão a mim, que se viro no espelho e me vejo, não me reconheço.
digo que não, e que os outros estão maldando coisas a meu respeito.
não te amo como quem tem consciência sobre o amor,
porque ter consciência sobre o amor é chamá-lo outra coisa,
é preencher o que me falta...
eu não te amo porque tenho ausências.
nem porque me sobra.
mas porque está, e não se sabe quando começou e por isso não tem fim.
amo-te e amaria se não houvesse, e não há. e o não é o estado de espírito que mais pode preencher espaços vazios.
eu te amo como quem nunca ouviu falar sobre o amor, nunca desejou nada.
amo-te como quem procura uma palavra na ponta da língua e optasse pela reticência.
amo-te com quem lê um poema e não entende sobre ele , absolutamente...
mas se sabe que gostou.
amo-te como quando uma criança vê o mundo pela primeira vez e não espera absolutamente nada dele, porque entende que ela própria é o mundo todo.
amo-te como senão amor. senão amar. senão.

eu te amo senão. teamo.

ramoncnovembro2013.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

                ela não considera a possibilidade de andar no meio da avenida. tinha medo, pavor. a morte a incomodava pelo nome, pelo aspecto e pelas sensações. uma vez, uma tia sua morreu e ela não pôde ir ao velório. não que ela tivesse um afeto especial pela tia, aliás, conhecia-a muito pouco. de um bem casado aqui, um batizado ali, além disso, uma vez ouviu dessa tia “ mas essa menina não cresce?” e mais nada. o resto foi, “ o enterro é amanhã”. não quis ir. imagina ouvir as ladainhas, as piadas, as velas acesa. a presença da morte se fazendo viva em cada olhar daquelas pessoas que sabem, um dia irão morrer.
            se resfriava pouco, e para continuar assim, afinal de contas “ resfriados se transformam em pneumonias” ia ao médico periodicamente, tomava todas as vitaminas no horário correspondente, ia à academia mas não se esforçava muito para não baixar a imunidade. comia pouca gordura trans e costumava não aceitar desafios para não aumentar o nível de estresse. considerava-se em perfeito estado mental e, a vida tão regrada lhe trazia, supunha pouco desconforto. sua vida estava sempre em primeiro plano. morrer, passava-lhe tanto à cabeça que decidiu viver assim, sem dividir piscinas, picolés e beijos.
            a morte lhe trouxe outras paúras, como dizem os antigos. tinha medo do escuro e de ficar sozinha. aliás, tinha tanto medo de ficar sozinha e do escuro que, uma vez , enquanto transava, não fechou os olhos, nem teve orgasmo .

            ensimesmou-se tanto, cuidando-se tanto, e tanto, que nunca morreu. aliás... sequer viveu.

viver senão.
ramoncnovembro2013.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

119. Trees


THINK that I shall never see

A poem lovely as a tree.

  
A tree whose hungry mouth is prest

Against the sweet earth's flowing breast;

  
A tree that looks at God all day,
And lifts her leafy arms to pray;

  
A tree that may in summer wear

A nest of robins in her hair;

  
Upon whose bosom snow has lain;

Who intimately lives with rain.
  10
  
Poems are made by fools like me,

But only God can make a tree.


            amigo, tenho algumas respostas, finalmente, que nunca lhe dei. definitivamente Chopin é melhor que Debussy em estilo, técnica e sentimento. não há esquerda no Brasil. e , é verdade, os movimentos estudantis faliram.
            bati seu carro, perdão. eu vou consertar... eu juro que vou. andei enroscado até o pescoço com as dívidas, mas assim que der eu conserto...
            você tinha razão, esse negócio de mestrado é para homens fortes. eu não sei , ainda, veja só você, se tenho essa força toda. mas...
            obrigado pelo poema do kilmer que , tem pra mim,  nunca pude agradecer direito. aquele dia em que você, com tanto esforço, recitou pra mim. foi bonito. foi emocionante. a sua figura velha e cansada recitando coisas sobre Deus e as árvores... foi inesquecível. como tudo em você.
            são agora dois anos... e outros novembros virão.

obrigado.

ramon chaves.
                nesse novembro indeciso, ele colocou agasalho e regata dentro da mala de ir ao trabalho que , ultimamente, serve como pasta para todas as ocasiões. comia bem, ia ao teatro, conversava com as pessoas da rua com uma cortesia sem precedentes.tinha umas contas para pôr em dia e uns assuntos do passado que o rondavam. mas a causa da insônia tinha coxas bonitas, vestido que delicadamente desenhava o corpo e papo bom.
            não se dormia mal, propriamente, e nem se pode dizer que desejasse o contrário disso. mas, definitivamente, os sonhos eram intranquilos. era uma moça bela, e com sua conversa bela, chegavam às mãos unidas. depois, um beijo no rosto, um tapinha no ombro.
             - au revoir,
            - arrivederci.
            não se entendiam nos prólogos. eram só linguagem. e sonho. um dia planejou que , ao encontra-lá, enquanto dormia, diria “ e então, minha filha, vamos falar o mesmo idioma, por gentileza?”. de ansioso, não dormiu.
            viu-se tão chateado por não encontrá-la no sonho, que, para pôr fim nessa confusão, ligou pra ela.
tem dias que os dois não dormem.

tem dias que os dois não dormem.

ramoncnovembro2013.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

ser teu,
foi tão impossível, inaplicável, que não vingou nada. não veio chuva. estiou muito. morreu o gado. morreu o cajueiro. só via palma. mandacaru e cana de gente que não tem cara.  ser teu, não pude.
sertão.

sertão.
ramoncmovembro2013.

domingo, 3 de novembro de 2013


lista de coisas para se fazer antes de morrer:
item 1: viver.

item 1.

ramoncnovembro2013.


luto por uma cesta básica que , além de arroz e feijão, considere paixão elemento básico.
um salário mínimo que, no mínimo, me faça rir.
uma bolsa família, que na bolsa, tenha amor.
um assento preferencial que me prefira.
uma vaga para idosos que queira envelhecer comigo.
uma saidinha de presídio que me leve pro motel

paixão.
ramoncnovembro2013.
eu já estou tão marcado que não cabe um único rabisco de emoção. se , sem querer, eu ler um único poema, transbordo. se meus ouvidos teimosos ouvirem com atenção um verso de uma música boa, não caibo. se, meu olhos, de soslaio, pegam um traço bom de qualquer ser também já transbordado, inundo.

            eu não cabia em mim desse tamanho. tive de alargar à força, à fórceps, a minha figura no espelho. e hoje, o eu de dentro luta desacomodado nessa figura que , quando vejo, aos poucos vai se configurando em mim. se eu sorrir, que seja, rasgo o couro dessa crisálida e ninguém me reconhece, viro do avesso.se isso acontece,  tem pra mim, sangro, até viver. 

sangro até viver.
ramoncnovembrode2013.

domingo, 27 de outubro de 2013

         ela nunca mais foi feliz como era antigamente.

         a primavera indecisa que há lá fora colore a cidade de cor e cinza. em são paulo não se sabe mais que dia foi aquela tarde, nem se ela existiu como se lembra dela ou é impulso da emoção que põe centímetro a centímetro de gesto, palavra a palavra com a força da intenção que só existe agora.podia cair o mundo, podia existir inferno. ela quis suco de laranja sem açúcar e sem gelo. não teve medo de arriscar-se em relação ao gosto, à temperatura. ao assunto. e decepção , quem sabe, seria numa próxima riso.

         a felicidade é coisa inventada pelas nordestinas, sei que existe uma frase assim nos textos de Clarice e que isso lá significa tristeza. o hábito com a felicidade não funcionava com ela... nunca funcionou... e , nem que o mundo caísse, ela não poria açúcar naquele suco. nem que todas as guerras do mundo explodissem. nem que na hora do beijo ele virasse o rosto. queria o suco sem açúcar.
a primavera ora é cinza... ela, naquele dia, inventou a felicidade numa conversa. linda e sem açúcar.

linda e sem açúcar.

ramoncoutubro2013.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

            apareceu, certa vez, na praça que tem uma igrejinha, o corpo de uma garota. tinha sinais de agressão que nem de perto lembravam pancada simples. era coisa de profissional. coisa que marca a carne fundo, fundo, e você não esquece nem com promessa.
            eu e todos os meus amigos fomos ver a novidade. afinal de contas, os quarteirões no entorno da praça já estava murmurando a má notícia. um corpo feminino, daquele jeito, representava de certa maneira uma ferida aberta. um risco a todos. as pessoas, de modo geral, tinham cheiro de medo. dizem que animais que têm bom olfato, como cães e cobras, podem sentir o cheiro do medo. ali, esses animais teriam um dia cheio de sensações.
            as senhoras de respeito, ilibadas em moralidade, resmungavam de sobrolhos à novidade que se apresentava com olhares de rapina sobre a nossa curiosidade. os velhos eram mais entusiasmados, mesmo assim, ralhavam conosco em razão do que era certo, talhando com faca e foice o nosso desejo pelo corpo.
            havia aqueles, além disso, que diziam da violência com violência “ também, com um shortinho tão curtinho!”. tinha também aqueles que faziam sinais da cruz quando ouviam e, se por descuido a viam, viravam a cara para o lado oposto ao corpo da moça, feminilíssimo e seminu.
            de certa maneira, eu tinha medo também. quando, depois de ter passado a grande araucária, velhíssima,  que ficava na praça. vi o corpo e o meu corpo, então, estremeceu de jeito novo. não tive medo da moça, propriamente. era medo de mim. medo do desejo que sentia. um suor gelado molhava minhas mãos em sudorese. o vento, cheio de poeirinha, pôde justificar, depois, porquê de primeiro fechei os olhos. eu, nesse instante, só conseguia pensar “obra do cão. isso quem fez foi o diabo!”. queria o meu corpo de volta, sob controle, em seu lugar de origem. sem medo, e sem perigo.
            enquanto a moça, tranquila, sem saber da novidade, comia pipoca na praça da igrejinha.

ramoncoutubro2013.

um dia, na praça da igrejinha, havia um corpo de mulher.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

depois.
depois de um copo de café,
de um boa gargalhada.
da mão estendida por uma esmola.
do dia cansativo
da piada boa mal contada.
ou da piada horrível extraordinariamente bem contada.
depois da música preferia
e da música chiclete.
depois do abraço fraterno
da desigualdade social
do clima neurótico criado à humanidade.
dos fetiches e dos fetichismos.
depois do poema do romancista.
e da poesia do mendigo  sobre o mendigo.
depois da folha que cai.
depois da primeira molécula.
e da última célula descamada sobre a pele.
depois dos latidos dos cães e do roçar dos gatos pelas pernas.
depois dos vincos das calças bem passadas.
e dos  pães sobre a mesa
e das mesas vazias.
depois das gentilezas.
depois dos infortúnios.
depois do depois e do antes e após e porém
a Bianca sorri pra mim. e eu a amo.

depois do riso da Bianca o mundo tem sido outro.

ramoncagosto2013.

sábado, 3 de agosto de 2013

bianca, desista de não pecar...
eu gozo, juro que gozo...
só em te beijar.

ramonc / recado na geladeira de casa para os grilos da Bianca.
agosto - 2013.

sábado, 27 de julho de 2013

à noite, já cansada de ser quem era, despiu-se .
foi ao banheiro e retirou a maquiagem à guerra, à guerra que há lá fora. desnecessária maquiagem. tirou a blusa e ficou com o sutiã  que não servia para o seu serviço, aliás, muito mais escondia a juventude da pouca idade. olhou-se sem pensar e tirou os sapatos, a saia. já nua, despiu-se dos mil trabalhos bem planejados por outros, dos mil e um trampos da facu. tirou de si a piscadela inconveniente e as trinta buzinadas de homens mal educados que ficaram felizes por lhe ver.
tirou um a um os conselhos maternos, paternos, fraternos, divinos e da Laura Müller.  despiu-se do espelho, do falo, da Vênus que misteriosamente e inescrupulosamente beija uma mulher bonita.
despiu-se tanto e de tal modo que, de certa forma, e em certo ponto, chegou a ser exatamente , e sem sombra de dúvida, ela mesma.
aí, então, ela se apaixonou.

antes das histórias de amor.
ramonc/julho-2013.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

senti  amor no ato
de vê-la, um dia.
Amor de grande modo...
que em meu peito ardia.

e desse amor que fugi por sê intenso
e, por isso, me escondia.
e me virei no mais que pude, ao avesso...
e , caso a visse, escondia.

não podia, eu, contudo
fingir não amá-la pelos dias...
e então num sussurro ...
eu grito um grito que me fia...

- por quem meu peito ardia...
e mais arde a cada dia...
não há quem eu ame mais.
como eu amo à Bia.

ao meu amor. minha amiga. minha amante.

ramonc. sem data.

sábado, 22 de junho de 2013

a última gota de moralidade que havia em mim, está transando com aquele cara que fuma um cigarro na esquina. 
não me sinto traído, sinto-me ultrapassado, porque, afinal, aquele cara é mais sexy do que eu. não culpo a moralidade . devia era ter transado com os dois. 

ramonc/ a última gota de moralidade que havia em mim está transando com o cara na esquina.
junho-2013.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

            seu pai acreditava que tinha uma santa em casa, Ana é uma Santa, dizia. o que ele não sabia é que Ana já tinha dado para o bairro todo. Ana gostava de todo tipo de pessoa, não importava quem, era, dos jovens, a mais democrática. ricos, pobres, feios e bonitos, mulheres de toda ordem. todos já tinha experimentado de ana o corpo.

            um dia ana casou com o sr josé fonseca cardoso braga alckmim marinho de melo batista. tornou-se uma aristocrática, salvou-se. toma a óstia e tem dois filhos. brancos, é claro.


ramonc/ a tragédia vermelha.


junho-2013.

domingo, 19 de maio de 2013

e as coisas que eu não quero, ou não posso. de muitas e amiúde.
são consideradas pouco importantes, são tratadas em desvirtude.
e de não querer e não poder, ser tanto e tanto.
fico eu sozinho, quieto, engolindo, acalmando...
ressequido o peito cheio, de louvor e pranto.

ramonc/ das coisas que eu não fui por você.

terça-feira, 14 de maio de 2013

nenhum comentário. no chão até aqui coube uns sete passos, largos e pequenos. houve vitrines que refletiu meu desejo domado, e que tinha um cabresto que olhava para um único lado. olhava pruma nota estranha de violão e uma voz afinada Quando? Quando o que menino se o quando é só um pronome, Mas e pronome não diz nada? Ocupa... Ocupa espaço. não tem sentido. O que é que você quer atrás se sentidos? Vá você atrás dos teus! Trabalhe por eles, e não exista um pronome sequer que o omita. Pronome é a omissão de um substantivo! Tava na vitrine e olhava por meio dela umas sem números de cores com tons de  dó, algumas com ar de algodão-azedo-meio-ressequido pelo sol. eu não significo? tudo é sublimação... a tentativa mortal de dizer disdizendo... desfazendo. sem tecer um um rémifásoládó. 

quinta-feira, 28 de março de 2013




era uma santa , vestia azul, sempre linda. num pedestal lilás imaculado, integro, livre do pecado. era uma santa linda.
- raimundo, deixa essa santa que já esta limpa, diziam os padrecos que viam raimundo por horas passar as mãos na santa para tirar-lhe o pô.
- será que quando eu morrer, padre, essa santa me leva pros pés dela, preu ficar com ela a vida que vem depois da vida?
- ohh, raimundo claro que leva... pede pra ela, pede com fé. a santa atende.mas espera raimundo, espera...
raimundo esperou e esperou a ausência da carne para ter com a santa, linda, linda, imaculada, imaculada seu arrebatamento.
como morreu velho, transou com juliana, patrícia, amanda, gertrudes, eulalia, açucena... mas gozou mesmo com Cora. sua melhor transa ate hoje, na vida que vem durante a vida.


ramonc/ a melhor transa de raimundo foi com Cora/
março-2013

sábado, 16 de março de 2013


dou-lhe um recado e esteja GRATA, porque causa em mim GRETA profunda, parecida com profunda GRUTA, fez meu riso ir-se como se vento , em pedra, causa-se GROTA, quando você, por desequilíbrio GRITA.
ramonc/ alfabetizando o amor, família GR/
março-2013

eu não tenho mãos. perdi as mãos pra ele.
não tenho pernas. ele as quis.
não tenho pau. cortou fora, deu aos cães.
não tenho boca. nem beijou-a, jogou fora.
não tenho cabeça. comprou de mim à banana e vendeu no mercado branco.
tenho coração, aflito, com medo... se eu não der meu coração a ele, fico pobre, paraplégico, morto... sofro. eu sei. disseram-me.

ramonc/ o medo que eles têm eles/ 
março-2013 


quinta-feira, 14 de março de 2013


freud disse que é preciso ter um pai.  sou um assassino de figuras paternas. matei, ao longo dos meus curtos anos vividos, uma centena de figuras paternas que, eu garanto, mais me atravancaram o crescimento do que sustentaram os deslizes.

primeiro, foi o macho fecundador. esse não matei. suicidou. foi-se. não sei dele. meu irmão, dez anos mais velho. matei sua figura paterna metida a besta quando sua idade e a minha não era mais ensejo para que eu, por arbitrariedade, lavasse a louça. meu padrasto. esse foi duro, veio rígido veio imbuído de um pai maior. foi então um genocídio.   matei pais grandes, pais pequenos, uns namorados da minha mãe. sempre me dei como filho, mas nunca fui concebido como, daí... matava a figura opressora e sem vergonha macha que , por pedantismo do acaso, aparecia.

matei padeiros, machões , gays, e até mulheres. pais de amigos meus, colegas, padres, orientadores.
Freud disse: é preciso matar a figura paterna. sou, o que poderíamos chamar , profissional.

ramonc. / o pai que se foda./
março – 2013.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


puro, peito e peito
boca e boca...
gela a pele, o gesto feito.
morde o lábio, barriga oca.

pronta a cena , bom o leito
meia luz, meia roupa.
o colchão largo e estreito.
a sanidade fica louca.

arde o copo de louco jeito.
e a cintura fica souta.

ramonc/ de noite na cama/
dezembro- 2011

domingo, 24 de fevereiro de 2013


a profusão cósmica de qualquer sentir
ultrapassa a liberdade cósmica do existir.

estar liberto é a utopia da desilusão:
deixa-se a corrente, a cela...
enlaça-se  com a mão.

lançam-se liberdades vãs
sobre uma mesa
fechasse com cadeados e certezas.

dá-me, ó Baco, um pouco de luz!
vontade aos meus desejos
carne aos urubus.


ramonc/prece inútil/

faz-me com amor tuas carícias
que pelo delta que compõe as tuas coxas
vivo a desejar sacanagens místicas
e a beijar as tuas bocas.

com suor deslizar pelos teus vales
são como corsas os teus seios
o teu sexo linda ave.
que rufla as asas aos meus beijos.

dá  luz à minha vontade!
de urrar como urra a besta livre,
pois em mim grande desejo arde.

Bebe este vinho da verdade
e não se culpe pois é condição da carne...
e é por isso que a sua calça existe.

Ramonc / dionísica/

cabe ao mundo amor maior
que não se proclame e mostre
que escape ao ferrolho da dor
e que não se relacione à morte.

que seja amor sem culpa e pudor,
que seja mais tácito que a sorte.
viva como vier de viver a flor
e não se possa comprar a dote.

seja o amor com sexo banhado.
e desmistificado em gozo e desencanto.
seja amor do adjetivo amado

seja amor do pouco pranto
e do peito aliviado
e do amor mais que livre do pecado.


ramonc/ livre do amor capital/

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013



Eu fui a Roma meu bem
A Lisboa também
A procura do meu grande amor.
Andei de avião
Passei no Japão
Só pra pegar sua mão.

Foi bom te ver sorrindo.
Eu fico aqui sentindo,
Tudo que eu quero ter.
Quer vir dançar comigo?
Quer vir dormir comigo?
Eu vou sonhar com você...

Eu fui tão longe meu bem
De avião e de trem
A procura do meu grande amor.
Vivi de água e pão
Deixei de ser são,
Só pra pegar sua mão.

Podia ser teu vizinho,
Podia ser teu amigo,
Mas isso é pouco pra nós.
Quer vir morar comigo?
Quer se casar comigo?
Ter um reino em nossos lençóis.

Eu fui tão longe meu bem
E foi muito que andei
A procura do meu grande amor.
Gastei um tantão
Vivi como um cão
Só pra pegar sua mão.

Quero você comigo
Ser teu amante e seu marido
Pela vida atarmos uns nós.
Ter uma porção de filhos,
Ter uma porção de bichos
E às vezes estarmos a sós...

Eu fui tão longe meu bem
Até barco peguei
A procura do meu grande amor
Dormi só no chão
Voei num balão
Só pra pegar sua mão.

ramonc / Valsinha para Bianca.
Fevereiro-2013.

sábado, 26 de janeiro de 2013


que esse tempo passe e que venha a primavera,
despetale algumas rosas, e nos garanta a vida.
nos garanta a vida eterna.
eu não encontro com ninguém,
reencontro rostos velhos, ressequidos...
chamo a eles bons amigos,
e nós vamos sem vintém.
tanto faz ser o que sou,
talvez num mês eu mude tudo,
dou-me pouco, mas me dou...
e dou do meu ser mais profundo.
venha o tempo e derrube a flor,
que ela renasça sobre a terra,
forme rimas com amor,
e nos garanta vida eterna...
sejamos velados  com brancos véus,
nos acendam algumas velas,
destinem rezas aos céus,
nosso corpo adube a terra...
lembrem de nós em reuniões,
façam homenagens sobre as campas,
deem-nos crédito por lições...
ponham nosso nome em crianças...
venha a morte com sua triste manta,
e arrebate nossas almas,
elimine guerras santas,
esvazie toda casa.
dê- ao tempo seu egoísmo,
pois a vida não se encerra...
nunca seja grande o abismo...
e nos garanta vida eterna.

ramonc/ prece espírita/
Janeiro-2013.