quinta-feira, 14 de novembro de 2013

                ela não considera a possibilidade de andar no meio da avenida. tinha medo, pavor. a morte a incomodava pelo nome, pelo aspecto e pelas sensações. uma vez, uma tia sua morreu e ela não pôde ir ao velório. não que ela tivesse um afeto especial pela tia, aliás, conhecia-a muito pouco. de um bem casado aqui, um batizado ali, além disso, uma vez ouviu dessa tia “ mas essa menina não cresce?” e mais nada. o resto foi, “ o enterro é amanhã”. não quis ir. imagina ouvir as ladainhas, as piadas, as velas acesa. a presença da morte se fazendo viva em cada olhar daquelas pessoas que sabem, um dia irão morrer.
            se resfriava pouco, e para continuar assim, afinal de contas “ resfriados se transformam em pneumonias” ia ao médico periodicamente, tomava todas as vitaminas no horário correspondente, ia à academia mas não se esforçava muito para não baixar a imunidade. comia pouca gordura trans e costumava não aceitar desafios para não aumentar o nível de estresse. considerava-se em perfeito estado mental e, a vida tão regrada lhe trazia, supunha pouco desconforto. sua vida estava sempre em primeiro plano. morrer, passava-lhe tanto à cabeça que decidiu viver assim, sem dividir piscinas, picolés e beijos.
            a morte lhe trouxe outras paúras, como dizem os antigos. tinha medo do escuro e de ficar sozinha. aliás, tinha tanto medo de ficar sozinha e do escuro que, uma vez , enquanto transava, não fechou os olhos, nem teve orgasmo .

            ensimesmou-se tanto, cuidando-se tanto, e tanto, que nunca morreu. aliás... sequer viveu.

viver senão.
ramoncnovembro2013.

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