ela não considera a
possibilidade de andar no meio da avenida. tinha medo, pavor. a morte a
incomodava pelo nome, pelo aspecto e pelas sensações. uma vez, uma tia sua
morreu e ela não pôde ir ao velório. não que ela tivesse um afeto especial pela
tia, aliás, conhecia-a muito pouco. de um bem casado aqui, um batizado ali,
além disso, uma vez ouviu dessa tia “ mas essa menina não cresce?” e mais nada.
o resto foi, “ o enterro é amanhã”. não quis ir. imagina ouvir as ladainhas, as
piadas, as velas acesa. a presença da morte se fazendo viva em cada olhar
daquelas pessoas que sabem, um dia irão morrer.
se resfriava pouco, e para continuar
assim, afinal de contas “ resfriados se transformam em pneumonias” ia ao médico
periodicamente, tomava todas as vitaminas no horário correspondente, ia à academia
mas não se esforçava muito para não baixar a imunidade. comia pouca gordura
trans e costumava não aceitar desafios para não aumentar o nível de estresse.
considerava-se em perfeito estado mental e, a vida tão regrada lhe trazia,
supunha pouco desconforto. sua vida estava sempre em primeiro plano. morrer,
passava-lhe tanto à cabeça que decidiu viver assim, sem dividir piscinas, picolés
e beijos.
a morte lhe trouxe outras paúras,
como dizem os antigos. tinha medo do escuro e de ficar sozinha. aliás, tinha
tanto medo de ficar sozinha e do escuro que, uma vez
, enquanto transava, não fechou os olhos, nem teve orgasmo .
ensimesmou-se tanto, cuidando-se
tanto, e tanto, que nunca morreu. aliás... sequer viveu.
viver senão.
ramoncnovembro2013.
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