sábado, 11 de agosto de 2012

O som doce da flauta doce.
Obs: ler em voz alta.

                Era só rígido metal dourado em forma fálica. Entretanto, em sua boca, com o toque de seus dedos acetinados pelo tingimento cor pérola nas unhas, ficava doce a flauta doce. Lia a partitura encantada, e o meu encanto, misturava ao canto oculto de tantos outros cantos de outros tantos que a admiravam embebidos, ou bêbados, balançando como marujos ao som doce, da flauta doce.
                Era eu só. Entretanto, embebido, ou bêbado, pelo encantamento dela enquanto o canto da flauta doce alcançava todo canto, era eu marujo em suave balanço de maré. Não estava só. Eu e meu acarajé quente, logo esfriamos. Frígido, frívolo, fácil. Era eu, fácil e complexo. Não tinha lugar e ninguém me procurava. Os rostos passavam por mim como repetidas claves de Sol, em Sol e em Mi, repetidos, rostos iguais a outros tantos. Era eu e só a flauta doce naquelas mãos fazia sentido enquanto o balanço dos rostos repetidos me enjoava. Atenuava o gosto e os rostos o que eu sentia. Mais era mais bom do que doía, entretanto, doía.
                - Oi, tudo bem?
                -Oi, não quero papo.
                -Oi, está barato!
                -Oi, não quero papo.
                -Oi, dou-lhe beijos.
                -Oi, não quero papo.
                -Oi, quanto tempo!
                - De melancia, não quero papo.

                Eram eles unidos. Embriagados, a maioria dançava mais do que os que estavam apenas embebidos pelo som doce da flauta doce. Pelo som em Sol, em Mi, em ti.
                Era você e só. Um amontoado de livros, umas palavras, argumentos, métricos, destoavam em silêncio da maioria. Era você crescendo, cismando, errando por um mundo não apenas teu. Eram tuas crenças, teus anseios, os teus beijos mortos. Lábio que não beija não tem razão de ser.
                Era o ser e eu. Voltei pra casa renovado.

Ramon C.
11/08/2012

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