Obs: ler em voz alta.
Era
só rígido metal dourado em forma fálica. Entretanto, em sua boca, com o toque
de seus dedos acetinados pelo tingimento cor pérola nas unhas, ficava doce a
flauta doce. Lia a partitura encantada, e o meu encanto, misturava ao canto
oculto de tantos outros cantos de outros tantos que a admiravam embebidos, ou
bêbados, balançando como marujos ao som doce, da flauta doce.
Era
eu só. Entretanto, embebido, ou bêbado, pelo encantamento dela enquanto o canto
da flauta doce alcançava todo canto, era eu marujo em suave balanço de maré. Não estava só. Eu
e meu acarajé quente, logo esfriamos. Frígido, frívolo, fácil. Era eu, fácil e
complexo. Não tinha lugar e ninguém me procurava. Os rostos passavam por mim
como repetidas claves de Sol, em Sol e em Mi, repetidos, rostos iguais a outros
tantos. Era eu e só a flauta doce naquelas mãos fazia sentido enquanto o
balanço dos rostos repetidos me enjoava. Atenuava o gosto e os rostos o que eu
sentia. Mais era mais bom do que doía, entretanto, doía.
- Oi, tudo bem?
-Oi,
não quero papo.
-Oi,
está barato!
-Oi,
não quero papo.
-Oi,
dou-lhe beijos.
-Oi,
não quero papo.
-Oi,
quanto tempo!
-
De melancia, não quero papo.
Eram
eles unidos. Embriagados, a maioria dançava mais do que os que estavam apenas
embebidos pelo som doce da flauta doce. Pelo som em Sol, em Mi, em ti.
Era
você e só. Um amontoado de livros, umas palavras, argumentos, métricos,
destoavam em silêncio da maioria. Era você crescendo, cismando, errando por um
mundo não apenas teu. Eram tuas crenças, teus anseios, os teus beijos mortos.
Lábio que não beija não tem razão de ser.
Era
o ser e eu. Voltei pra casa renovado.
Ramon C.
11/08/2012
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