o homem e sua
mulher viviam nus, e não sentiam vergonha.
Gên. 2,V25
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soube-se de um homem
que esqueceu todas as palavras. não tinha nenhuma limitação física, na ordem
das ideias,ou na ordem da fisiologia que explicasse a ausência, naquele homem,
de não saber produzir um texto, ou pôr em ordem palavras que, trançadas, seriam
uma expressão. era um homem de significados, sem significantes. o que fazia
dele um homem pela metade, pois se sentia, não punha nos sentidos nomes. se
desejava, não tinha como dizer sobre os desejos e, por não se terem, naquela
época, ciência, notícia, coisa a respeito, acabou que decretaram : é o
primeiro, no mundo!
olhou para o mundo a
partir de si e deu nome às coisas. tudo que não era homem era outra coisa, e
tudo que não era outra coisa era ainda outra... e assim ele foi, cansado-se e
nomeado as coisas por um sem fim. deu então, que este homem, percebeu que não
estava só. havia outros como ele nomeando as coisas. o homem então percebeu
que, não bastava nomear as coisas pelo que era e pelo que não. era necessário
perceber que, nos iguais, há diferenças. olhou pra si.
procurou em si um
traço, uma característica. um membro. mas ele tinha os mesmo pelos. os mesmos
braços. e os mesmos cabelos que os demais. fora um nariz mais pontudo, ou uma
barba mais espessa, o homem, era tão somente a cópia de outro homem. pondo
nomes nas coisas, iguais uns aos outros. o homem então chorrou. chorou por não
conseguir perceber em si além do outro.
no choro, viu que
outros não choravam. percebeu então que, por dentro, no escondidas das carnes e
dos músculos, existia algo que o fazia um. naquela noite o homem pôs nome nas
coisas de dentro. nomeou o choro, a dor. nomeou a fome. nomeou a euforia. viu
então, que no por dentro e no por fora, se uniam coisas que o faziam homem,
disse então: quero. naquela noite, uma mulher se deitou com ele e não sentiram
vergonha de pôr nome um no outro. chamaram-se pecado.
o nascimento do homem
ramoncfevereiro2014.
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