quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

o homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam vergonha.
Gên. 2,V25
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soube-se de um homem que esqueceu todas as palavras. não tinha nenhuma limitação física, na ordem das ideias,ou na ordem da fisiologia que explicasse a ausência, naquele homem, de não saber produzir um texto, ou pôr em ordem palavras que, trançadas, seriam uma expressão. era um homem de significados, sem significantes. o que fazia dele um homem pela metade, pois se sentia, não punha nos sentidos nomes. se desejava, não tinha como dizer sobre os desejos e, por não se terem, naquela época, ciência, notícia, coisa a respeito, acabou que decretaram : é o primeiro, no mundo! 

quandos os nomes foram esquecidos, todas as relações, de todas as ordens, de poder, ou de subordinação, de superioridade ou de inferioridade e todos os contratos, e todas as instituições também sumiram. o homem, então, olhou pra si e disse: sou homem. dizer de si deu-lhe poder. e ele pôde.
olhou para o mundo a partir de si e deu nome às coisas. tudo que não era homem era outra coisa, e tudo que não era outra coisa era ainda outra... e assim ele foi, cansado-se e nomeado as coisas por um sem fim. deu então, que este homem, percebeu que não estava só. havia outros como ele nomeando as coisas. o homem então percebeu que, não bastava nomear as coisas pelo que era e pelo que não. era necessário perceber que, nos iguais, há diferenças. olhou pra si.

procurou em si um traço, uma característica. um membro. mas ele tinha os mesmo pelos. os mesmos braços. e os mesmos cabelos que os demais. fora um nariz mais pontudo, ou uma barba mais espessa, o homem, era tão somente a cópia de outro homem. pondo nomes nas coisas, iguais uns aos outros. o homem então chorrou. chorou por não conseguir perceber em si além do outro.

no choro, viu que outros não choravam. percebeu então que, por dentro, no escondidas das carnes e dos músculos, existia algo que o fazia um. naquela noite o homem pôs nome nas coisas de dentro. nomeou o choro, a dor. nomeou a fome. nomeou a euforia. viu então, que no por dentro e no por fora, se uniam coisas que o faziam homem, disse então: quero. naquela noite, uma mulher se deitou com ele e não sentiram vergonha de pôr nome um no outro. chamaram-se pecado.

o nascimento do homem

ramoncfevereiro2014.

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