este frio, à noite, é quase vinho
muito velho. põe pra fora, se o cuidado é pouco, as partes mais rasas e mais
fundas do desejo. os secretos que se escondem nos sorrisos de canto de boca e
nas palavras, que por vermelhidão que ruborizam os rostos, são ditas apenas no
por dentro.
“se você me perguntar que sim, eu
sorrio dizendo sim, mas eu não digo nada”.
pensei, olhando a moça covardemente
bela, naquela noite, que se ela vestisse uma lingerie de tom vermelho, ou branca
( mesmo sabendo que psicologicamente as cores simbolizam coisas diferentes) eu
só entenderia braile. vi nossas mãos bailarinas em compasso, equalizadas em uma
mesma estação, no frio-quente de outono que parecia vinho. que parecia febre.
“”pois são belas as coisas que fazemos
pelo desejo, pelas vontades. mas, às vezes... não dá”.
e sem saber que as coisas “não dão”,
as nossas mãos, pouco sábias, muito desejosas, trançavam-se.
amavam-se.costavam-se.nucavam-se.cabelavam-se.beijavam-se. teu-se.minha-se.
“respira. respira fundo... que tem
coisas que só respirando fundo! chega!”
que as nossas pernas eram próximas, e
as nossas peles eram química. e as nossas bocas eram gemidos. e os nossos
braços eram abrigo. e os nossos cabelos emaranhados. e os nossos olhos
fechados. e os nossos segredos despertos. e a nossos caminhos: um.
“vira pro lado, acorda! que a vida
passa e passa. as noites vêm, frias, vêm quentes e que os sonhos, unidos, às
vezes não são, ou não podem ser, ditos”
à noite, o outono da resistência.
ramonchaves2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário