sábado, 4 de janeiro de 2014

                é verão em são paulo. a temperatura pode variar, em minutos, de 30 a 17 graus. vem calor... vem umidade...tempestade. o homem não nasce paulistano, a cidade o devora. mutila. transforma. ama. ama. ama. vemos, aqui, nos metrôs, nos trens, ônibus e calçadas, seres anfíbios que não se molham. altamente preparados e impermeabilizados ao ambiente úmido, pantanoso e árido, na mesma proporção paradoxal. aos paulistanos não afeta uma gota de água ou lágrima. tudo é sequidão no charco. há sertão e lodo aqui. mas não nasce nenhum mandacaru florido, e as garças e capivaras estão sujas, principalmente de desamor.
            se você pôr, do paris 6 à botica da esquina, os olhos na rua, verá gente apressada, atrasada, com medo de assalto, de drogado. de gente. as pessoas aqui têm medo porque ele, o medo, é boa massa impermeabilizadora. viver sem medo pode, em são paulo, molhar o rosto, os sapatos, e os corações. e as pessoas daqui pouco se atrevem.
            vendo assim, você pode dizer “está aí um carioca, saudoso, apaixonado”,.” um nordestino que lembra da ausência que faz na própria terra com saudade”. não... eu sou um adaptado. completamente paulistano. do centro à periferia há pedaços meus jogados em cafés, cinemas, teatros. olhares. quiçá; paixões.
            é nesse ambiente hostil, lhe digo, que acontece o maior número possível de imprevisões negativas e positivas quando um ou outro paulista entrega-se à ausência do medo. um motoboy sem medo, por exemplo, arrisca-se entre os carros depressivos e caí. imprevisivelmente, por isso, o mundo se atrasa num engarrafamento que deixa a cidade, vista de cima, igual a uma árvore de natal reluzente. deu no jornal, um rapaz, destemido, decidiu não aceitar o aumento de vinte centavos na tarifa para o transporte público. fez a revolução. uma moça, sem medo nenhum, olhou pra mim e me sorriu de volta. estava ali, em são paulo, o milagre.

em são paulo, o milagre.

ramoncjaneiro2014.

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