à noite, a temperatura do dia abaixou
uns dez graus. menos no quarto. a janela aberta não dava conta da sensação de
calor. o ventilador não minimizava um terço da temperatura. na tez do rosto, o
suor escorria com volume de mina. o suor fazia nos sulcos da pele pequenas
poças de água salgada. como pequenas piscinas salgadas comuns no litoral
cearense.um inseto, o mais desejoso por pele e sangue, pousou suave em sua pele,
tocou seu colo. foi suave o suficiente para ser notado e, mesmo assim, não ser
repelido . ele penetrou sua pele, tocou seu sangue. comeu.
quem nos visita durante o sonho?
deuses? espíritos? outras vidas? o inconsciente inconformado com a anulação dos
desejos? naquela noite, ela pulou a cerca dos carneirinhos e foi tocada. foi
beijada. desejou. não houve uma parte de seu corpo sem visitação. tudo foi
amado. um amor despudorado que a tocava com o corpo. definitivamente não era
uma relação fálica. era o corpo a corpo, o cheiro, o toque, a saliva, o pulso. as
sensações. calor.
subia por suas coxas uma ânsia
sufocante que tinha, nevrálgicamente, contato com os pulmões que se enchiam de
ar como duas bexigas de festa. seus pelos arqueavam e o suor resfriava o corpo
em água. ela toda estava úmida. molhada. não havia um ponto seco. e sua boca se
enchia ainda mais de saliva ácida e corrosiva. suas penas abertas em Vênus. a Vênus
comportada e cristã de Botticelli.
quem suportaria o desejo além do
sonho? quem pode despertar de si o si que há por dentro? quem suporta um calor
de dezembro o ano todo? abriu os olhos, que arderam depois que a retina tocou o
sal do suor. aumentou a potência do ventilador. e , depois de ter sido tocada,
voltou a dormir. não teve disposição para matar o inseto.
o inseto, que amanhã estaria de novo
desejoso, está noite dormiu depois de comer, um sono de homem.
o
inseto teve sono de homem.
ramoncjaneiro2014.
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