segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

                           à noite, a temperatura do dia abaixou uns dez graus. menos no quarto. a janela aberta não dava conta da sensação de calor. o ventilador não minimizava um terço da temperatura. na tez do rosto, o suor escorria com volume de mina. o suor fazia nos sulcos da pele pequenas poças de água salgada. como pequenas piscinas salgadas comuns no litoral cearense.um inseto, o mais desejoso por pele e sangue, pousou suave em sua pele, tocou seu colo. foi suave o suficiente para ser notado e, mesmo assim, não ser repelido . ele penetrou sua pele, tocou seu sangue. comeu.
            quem nos visita durante o sonho? deuses? espíritos? outras vidas? o inconsciente inconformado com a anulação dos desejos? naquela noite, ela pulou a cerca dos carneirinhos e foi tocada. foi beijada. desejou. não houve uma parte de seu corpo sem visitação. tudo foi amado. um amor despudorado que a tocava com o corpo. definitivamente não era uma relação fálica. era o corpo a corpo, o cheiro, o toque, a saliva, o pulso. as sensações. calor.
            subia por suas coxas uma ânsia sufocante que tinha, nevrálgicamente, contato com os pulmões que se enchiam de ar como duas bexigas de festa. seus pelos arqueavam e o suor resfriava o corpo em água. ela toda estava úmida. molhada. não havia um ponto seco. e sua boca se enchia ainda mais de saliva ácida e corrosiva. suas penas abertas em Vênus. a Vênus comportada e cristã de Botticelli.
            quem suportaria o desejo além do sonho? quem pode despertar de si o si que há por dentro? quem suporta um calor de dezembro o ano todo? abriu os olhos, que arderam depois que a retina tocou o sal do suor. aumentou a potência do ventilador. e , depois de ter sido tocada, voltou a dormir. não teve disposição para matar o inseto.
            o inseto, que amanhã estaria de novo desejoso, está noite dormiu depois de comer, um sono de homem.

o inseto teve sono de homem.
ramoncjaneiro2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário