quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

       
"Sete mil vezes eu tornaria a viver assim
Sempre contigo transando sob as estrelas
Sempre cantando a música doce
Que o amor pedir pra eu cantar
Noite feliz, todas as coisas são belas"

Caetano Veloso, Sete mil vezes.



           umidade e calor, não dá outra: tempestade. alaga a rua, escorre volumosa a água que não poupa, é implacável, avassaladora. inevitável. tsunami. o homem se abriga na padaria onde o café é quente e o papo é solidário. os cães do lado de fora vigiam o povo que corre com o que for sobre as cabeças para poupar o minimo-máximo da água quente da primavera florida que há em são paulo.
          eu invadi os teus pensamentos, certa tarde, despindo-lhe o corpo que vestia tons terrosos e uma lingerie azul que combina com o tom da sua pele, com a atenção de uma criança que começa a ler as primeiras sílabas. concentração, interesse e o despreparo de quem acaba de perder a virgindade. quantas vezes se deixa a virgindade durante a vida? a primeira vez que nos olhamos. a primeira vez que masturbei pensando em você. a primeira vez que minha boca tocou com profundidade o copo de café que me é servido agora, enquanto a chuva engrossa do lado de fora e o clima , temperado, umidece e traz um cheiro de terra e pecado.
           onde vai dar a sua linha da vida? "morro cedo, envelhecer? me dá preguiça.", e eu pensando em teus pulsos quentes ao meu toque e a nossa virgindade indo-se alegre e quente, rumo ao oceano? talvez. rumo ao quarto fechado, a uma pequena luz acesa, que mostra a curva da linha da vida, dos teus seios e da tua cintura presa às minhas mãos, coladas à minha boca, junto da atenção das minhas orelhas. língua. todas as palavras são belas. mas você põe significado em tudo. 
           - é... não para essa chuva, esse calor...
           - toma mais um café?
           - sim.
          de Cristo a Lacan, da linha longa à linha curta: há pecado. há desejo. você me traz o mundo. eu te prometo beijos. 
           - parou de chover...
           - por hoje. aposto que ainda virão furacões. 
           dizem estar próximo o final do mundo.




ramon c. / todas as coisas são belas/
19-12
         

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