jaqueline
é um mulher negra, suja. sua aparência é provocativa. jaqueline cheira a mijo,
tem as unhas pretas de sujeira que sai da própria pele.
ela
entrou no estabelecimento onde eu, sozinho, bebia café com olhos de rapina.
procurava algo, ou alguém – pensei quando a vi – de uma maneira cheia de agonia
e pressa.
-
coca-cola? alguém ofereceu à jaqueline.
-
sou de recusar coca? disse, jaqueline, com cara de quem não recusaria nada.
jaqueline parecia ter fome de tudo. comeria qualquer coisa que lhe pusessem a
frente.
jaqueline
pegou a garrafa, recusou o copo.
-
oi, neguinha...
- eu
sou ja—que—li—ne !
jaqueline
recusou a alcunha que um homem lhe deu.
- eu
sou preta, mas meu nome é já—que—li—ne.
o
homem calou-se. eu sorri em direção à jaqueline... que sorriu olhando pra
baixo. jaqueline teve vergonha de sorrir de volta. olhou-me para ter certeza de
que eu sorria para ela, e disse “oxi”, consternada, embaraçada. não soube o que
fazer com o meu, invasivo, sorriso.
jaqueline
pôs no balcão um número grande de moedas que foram trocadas por uma ou duas
notas. não sei quanto. olhei mais uma vez para jaqueline e seus olhos eram vivos,
vivos. jaqueline saiu de onde eu estava sem perceber que eu tinha segurado em
suas mãos, e visto uma mulher linda, linda...
ja—que—li—ne.
ramonchavesjunho2014.
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