sexta-feira, 13 de junho de 2014



jaqueline é um mulher negra, suja. sua aparência é provocativa. jaqueline cheira a mijo, tem as unhas pretas de sujeira que sai da própria pele.
ela entrou no estabelecimento onde eu, sozinho, bebia café com olhos de rapina. procurava algo, ou alguém – pensei quando a vi – de uma maneira cheia de agonia e pressa.
- coca-cola? alguém ofereceu à jaqueline.
- sou de recusar coca? disse, jaqueline, com cara de quem não recusaria nada. jaqueline parecia ter fome de tudo. comeria qualquer coisa que lhe pusessem a frente.
jaqueline pegou a garrafa, recusou o copo.
- oi, neguinha...
- eu sou ja—que—li—ne !
jaqueline recusou a alcunha que um homem lhe deu.
- eu sou preta, mas meu nome é já—que—li—ne.
o homem calou-se. eu sorri em direção à jaqueline... que sorriu olhando pra baixo. jaqueline teve vergonha de sorrir de volta. olhou-me para ter certeza de que eu sorria para ela, e disse “oxi”, consternada, embaraçada. não soube o que fazer com o meu, invasivo, sorriso.
jaqueline pôs no balcão um número grande de moedas que foram trocadas por uma ou duas notas. não sei quanto. olhei mais uma vez para jaqueline e seus olhos eram vivos, vivos. jaqueline saiu de onde eu estava sem perceber que eu tinha segurado em suas mãos, e visto uma mulher linda, linda... 

ja—que—li—ne.
ramonchavesjunho2014.

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