Daqueles ....Sabe? Tipo... De verdade.
“Sei lá. Foi o que me ocorreu.
Porra.
Gosto do meu pai porque ele é meu” .
Clarah Averbuck.
Nunca soube
a importância de um pai. Pai de pai mesmo... Tipo, pai de verdade. O meu, sim,
existe, é vivo e me faz visitas, entretanto nunca soube a sua
justificativa. Quando eu era pequeno a justiça, por causa da cabeça oca dele,
pediu que ele se mantivesse a, no mínimo, 100 metros de distância
da minha mãe. Como eu nunca saia da barra da saia da minha mãe fiquei por muito
tempo sem vê-lo. Não senti falta, na verdade, até me alegrei. Pensem só, se a justiça te afasta da sua ex-esposa há um
motivo, no caso do meu pai não foi diferente. Não quero expô-lo, pois não
guardo rancor, nem raiva, só cabe um breve comentário para justificar o texto
inteiro.
A princípio,
muitos podem acreditar que cresci sem referência masculina, o que não deixa de
ser até certo ponto verdade. Há em mim desprezo pelo machismo, pela macheza e
pela masculinidade exasperada. Gosto das tarefas femininas, coser, cozinhar (
amo aliás), e uma casa demasiadamente suja me dá nos nervos. Prefiro cuidar do
que ser cuidado, e esse são traços maternais, inclusive. Entretanto, brinquei
com espadas na infância, de policia e ladrão, e venci os mais vis generais de
minha imaginação, conquanto, ao passo de não ter referência masculina tenho
muitas: a do meu irmão mais velho que teve de segurar as pontas com minha mãe
desempregada e eu então com 3 para 4 anos, a do meu padrasto , que se há alguém
que pode se assemelhar a um pai aí está a figura, do Domingos, um patrão de minha mãe, que depois
tornou-se amaríssimo pela família toda e me apoiou em todas as minhas escolhas,
e da minha própria mãe, que mesmo feminina, teve uma postura austera masculina
e cuidou de mim e do universo. Todas essas figuras representaram o meu crescimento
pessoal e solidificaram a minha vida, e elas, de uma maneira ou de outra, são
um símbolo do masculino. Mas pai, pai de “pai” mesmo, nunca precisei.
Nunca
precisei até que, num destes imbróglios da vida, ela me disse: - Meu pai
precisa saber. E um pai, não o meu, tornou-se o ponto nevrálgico de uma questão
essencial: “Posso namorar com sua filha?” Essas coisas não passavam por minha
cabeça, sempre conheci gente prafrentex,
do tipo que a família é última a saber de qualquer coisa, e que o pai, se não é
tão ausente como o meu, é presente o bastante para fumar um baseado com prole.
Pai, de “pai” mesmo, eu nunca tinha conhecido. Daí que um pai, destes de modelo, destes de
novela, destes bravos de piadas sobre gente do interior começou a me encafifar,
e encafifar...
A
questão parece simples e muitos podem dizer: ah, que isso, não existe bichos de
sete-cabeças, o mundo está mudado e não tem quem não lhe considere bom partido!
Entretanto basta um breve exame para percebermos que o buraco é mais em baixo.
Não estamos falando de um pai, estamos falando de um pai destes dos quais, para mim, não passavam de lendas. Sendo
assim, temos que, para entender minimamente do que se trata, perceber onde a
palavra pai é usada. No universo
familiar brasileiro chegaremos a condição de “ pai de família”, e esse, é
aquele que no senso comum ( conhecimento inicial, e às vezes, o último), que rege a orquestra familiar. Esse aí é o
tipo que parece ser o pai que me encafifa. E não é tudo, no universo
empresarial, e olha não estou falando apenas de empresas lícitas, o pai é o
líder. Basta lembrar do filme ícone de masculinidade “The goodfather”, que numa tradução literal seria “O Padrinho”. Mas
se considerarmos a etmologia da palavra veremos o father lá. O potente. E essa
potência é tão grandiosa que em português a única tradução possível fora : "O Poderoso Chefão", pois chamar o filme com Marlon Brando de "O Padrinho" seria adocicar
o universo macho da obra, e chamá-lo de "O Paizão" seria torná-la infantil, pois a palavra Pai é
grande por si só. Não considerei ainda o universo religioso, e nesse temos nas
religiões africanas o pai-de-santo ( o mestre de cerimônia do culto), o pai-de-cabeça
( entidade que rege um filho de santo), e se formos para as religiões cristãs
sabemos bem quem a figura do Pai representa. Sendo assim, se você é pai, pai
mesmo, é você quem manda.
Daí que
vem o todo o problema. O medo. Pois como dizer a esse pai, esse pai tão
presente, que eu o admiro sem conhecê-lo? Que sou agradecido por me trazer medo,
e temo mais ainda o momento que irei encontrar com ele e dizer: - Oi, é...Estou
perdidamente apaixonando por sua filha...e, aceita um café? Fossem outros
casos, eu não ia querer passar perto do pai. Esse negócio de conhecer a família
antes soava tão démodé, entretanto, agora, é essencial... Não só para eles, mas
para mim também. Quero muito agradecer a esse pai, de pai mesmo, pela educação
que deu a ela que amo, e pelos genes bons que esculpiram a mais doce criatura
que já vi e toquei ( rum rum, toquei bem pouco). Quero dizer a ele que me
perdoe pelos meios tortos que chegamos um ao outro, mas que não pudemos evitar
e que estamos tentando fazer tudo o mais certinho possível. Como? Sei que não é
fácil entregar seu tesouro para que outro tome conta, sei o quanto é duro e
quanto ele tem direito de me esfolar o couro. Mas como deixar que esse amor
entre mim e sua filha se esvaia? É, ele é um pai, de pais mesmo. E é isso que
me dá uma esperançazinha, porque o que eu tenho para a filha dele é: um amor
daqueles..., tipo, de amor mesmo... sabe?
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