quarta-feira, 18 de julho de 2012


Hóstia.


“Se eu derramasse amor nas suas estrelas e flor no seu perfume?  Acalmasse essas interrogações vãs que eu engulo com café com leite e pão com manteiga.
Dilma Alencar.
                As pessoas, as pessoas. Há pessoas. Mergulhar tão profundamente em si não tem volta ou remédio.  Se tivesse eu não tomava, preferia tomar veneno a ser quem eu era no início dessa linha. E, a bem da verdade, a metáfora é boa. Seguimos com goles dulcíssimos de um veneno que nos leva ao abismo. Ou de morrer, ou de ser.  E, nem por força, saberia dizer se um depende ou não do outro para acontecer.
                As coisas, as pessoas, quem saberá  o que o maníaco da frente pensou quando viu a mulher insinuante, ou se fora a mulher insinuante que desejou um maníaco quando vinha um pobretão, que nem pensava que uma mulher insinuante o queria maníaco, desses de levar num parque e sufocar alguém com o cadarço. Se ele pudesse seria maníaco, mas é um coitado que nem pra sonho erótico serve. Nem dos outros, nem os dele. Ele é, passo a passo, um. Só um.  Um só. Ser o que se é dói, e dói mais quando se sabe disso:ser e saber a respeito é irremediável. E diante de dor intensa, talvez, morfina resolva. Mas... E se a morfina é pouca?  Dor ? Quem culpará alguém por desistir? E se desistir significar a morte, temos um mártir. Todos que morrem são mártires. Morrer perdoa tudo. Morrer é divino, se ganha o céu, se ganha a lápide. As flores de cerejeira.
                Não, não é de morrer que estou falando, e falar de morrer também não é falar em morte. É que, às vezes, andar por aí aguça as coisas. O mundo pesa. As pessoas correm e as etiquetas estampam as caras todas alegrinhas, bonitinhas. Ter par nesse mundo é coisa de gigante. Todo mundo é austero, ninguém tem sequer um pecadinho pra contar. Todos íntegros. E , se por ventura há pecados, foram feitos à revelia, força da tradição, do desejo: coisa justificável. Ninguém é mau. Eu? Eu, contudo, já senti inveja. Medo. Já me quis maníaco, desses de cadarço, de parques. Não pude. Sou fraco, sou eu. Não lembro, mas se puxar bem pela memória, já me quis insinuante. Talvez mulher. Quiçá.
               Vi nos olhos dos outros uma dor tão grande. “Mas eu nunca falei com ela?”! A dor era minha? Essa mulher estava sentindo a minha dor, na rua, na calçada, desgrenhada: ladra!Pegou uma dor que era minha meteu por entre as pernas e estava grávida de mim! Gestava meu filho-dor.  E eu queria-a. Não entendi o motivo, não entendia seus anseios. Mas tive medo. Covarde. Sou covarde, pois não perguntei, a deixei grávida de uns seis meses de dor. Sem morfina. Com veneno. Tomemos um gole. E de um psiu, veio à tona: eu ainda posso amar.Amar perdoa o não ser. Quando se ama, se é criança. Quando se ama com tesão. Não estão falando em fraternidade.
                Quando se ama quer ter as mãos na carne, pois se ama a carne entre-outras-coisas. Amar é perdoar o ser, mesmo sabendo sobre. Amar é ter um copo de veneno que ao passo de matar , traz-lhe a vida inteira, de uma vez só. "Psiu: Eu te amo"... Respirei.


Ramon C.

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