quinta-feira, 24 de janeiro de 2013


            bem, há uma história para ser contada. e lá vem a minha personagem  central. é aquela moça que aparenta às vezes mais, às vezes menos, do que tem como registro na certidão de nascimento, e, por ser tão impreciso dar-lhe primaveras, deixo a seu critério pôr na moça, - veja bem, é uma moça- idade conveniente.
            essa moça não tem nada de verdadeiramente especial. nunca foi a mais bonita da sala, seu primeiro beijo não foi lá essas coisas e , na verdade, depois do primeiro demorou para dar o segundo por medo de uma segunda decepção. estudou em lugares médios, comeu comidas de tias, avós. houve época conflituosa em sua adolescência: os hippies, os rocks, as drogas e os hormônios nunca foram boas coisas a serem combinadas. demorou para menstruar, negou algumas religiões e, hoje , diz que seu único apego transcendental é com Jesus, contudo um Jesus meio hippie, roqueiro, drogado que aceita o casamento gay na boa. transou algumas vezes, gozou poucas vezes. mas gozou. é verdade, porém, ela acha mais simples gozar se masturbando. sente-se livre para pensar no que quiser e, depois da transa imaginária, ela vira pro lado, dorme e ronca. e , se não estiver na vibe, desiste e usa o dedo para coçar o nariz, quem sabe... agora, que conhecemos a nossa estrela, resta-me dar à moça um fato notório. afinal de contas, não se narram histórias meãs. e essa é, de fato,  uma boa história.
            acontece que hoje, nesse exato momento, um moço, nem feio nem bonito, de estatura média, entretanto, uns dedos mais alto que a moça, olhou-a nos olhos e disse “Maria?”. nossa moça não se chama maria. mesmo assim, e talvez os místicos, alquimistas, psicólogos, psicanalistas, ousados ou bobos  saibam ou queira explicar, ela pensou, em um milésimo de segundo, muitas coisas. primeiro, que poderia mentir e dizer que sim, seu nome seria maria,depois,  que odiaria seu nome verdadeiro pra sempre, e, por último, que amaldiçoaria para sempre quem teve a ideia ridícula de não dar-lhe como graça “maria”. os olhos amendoados do moço desenlaçaram a cara aturdida de nossa companheira já de muitas linhas. sim, não vá você pensar que eu atenuarei essa história, ou coisa que o valha. não estamos aqui para julgar ninguém, espero, nem a nossa personagem. então, você não será machista a ponto de dar-lhe alcunhas depreciativas como “puta” ou coisa parecida só porque, em poucas horas, ela estava transado com o nosso segundo personagem num motel de péssima categoria, suando como nunca, gemendo como nunca, de quatro como poucas vezes teve  coragem e vontade de fazê-lo, por acreditar que é coisa de puta.
            enquanto o nosso segundo personagem segura as ancas da moça, ela desesperadamente lançava o pescoço para trás. é bem verdade que, quanto ao sexo, é melhor fazê-lo, narrar-lho parece conversa ora boba, ora vulgar, ora engraçada. acontece que  sexo é, pelo menos faz sentido que seja, um ato irracionalmente animal. se o homem lhe põe muito significado, empobrece. bem ,fazem sexo os babuínos nas savanas africanas, em meio ao olhar de muitos outros babuínos, à temperatura elevada e clima úmido. tal qual um casal de babuínos, e na mesma posição que os primatas inferiores fariam, nosso casal faz amor dando pouco significado às coisas.
            uma mão, nesse momento dos mais íntimos, é apenas uma mão. não há significado em ser mão. há sentido. as mãos do moço são sentidas firmes nas ancas de nossa protagonista, que agora, dá um grito lancinante que significa: gozo. levantam-se, beijam-se. fazem sexo mais uma vez enquanto vestem-se. trocam telefones e , ambos, colocam codinomes ao passo de pôr na agenda do celular os respectivos e verdadeiros nomes. como se , ao olhar para o nome verdadeiro seguido do telefone, enxergassem um pecado imperdoável que seria posto à ignomínia sem precedentes.
            a nossa moça caminha até sua casa agora... fraca, feliz. estranhíssima. mesmo que tentasse se lembrar não poderia. ela tentou muito. mas depois desistiu. lembrou-se aos poucos de quem era. deu-se nome, “meu nome é...” . enfim. chegou em casa e as luzes estavam acesas.
            -demorou?
            -trânsito.
            - você vai fazer o jantar?
            - sim.
            - sua mãe te ligou, disse que você pode mandar a Amanda pra lá no fim de semana, ai você poderá me fazer a tal – ênfase no tal- surpresa.
            -que bom.
            quando será época de morangos?
ramonc/ o microcosmos do não amor/
janeiro-2013.

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