o
café quente foi servido nas duas xícaras. o líquido saído do pequeno
buraco da chaleira descia espesso, mais que o comum, contudo, seu barulho podia
ser apenas imaginado. ouvido... não.
tinha
um tempo a amizade dos dois. conheceram-se nuns lugares destes quaisquer, mas
foi numa conversa sobre mitologia grega que o nó germinal das relações fora
cerrado: nascida, relação, como afrodite ou dionísio, estavam ali. a conversa
naquela tarde, é verdade, fora de política à religião, sempre ultrapassando a
mais alta transcendência mas nunca o limite da moralidade e da cintura.
de onde estavam via-se uma pequena igreja em
tons terrosos, uma roseira com rosas em botão e outras, mais ousadas, já
despetaladas pela suavidade do vento que com pinceladas ora fortes, ora mansas,
abria as rosas mais ousadas e as deixava molhadas pela umidade da primavera
chuvosa que fazia. naquele momento ainda, via-se um cão e um casal de velhos
que podia , quem quisesse, acreditar que eram casados há anos.
enquanto ela dissecava as últimas notícias
sobre o caderno de política, pegou-o em nirvana olhando para suas
coxas. sentiu-se desejada, invadida, desrespeitada... mas não escondeu as pernas
e nem mudou de posição, tampouco mudou o tom de sua voz, ou o assunto para que
ele , por susto, medo, vergonha deixasse de olhá-la. sentia-se envergonhada por
querer ser desrespeitada, mas gostou dos olhos que fitavam suas pernas
nuas e que desejavam , pensou, o corpo todo.
ele
ouvia pouco sobre o tal rafael correa, e agora, ele parecia ainda mais
desconhecido diante às coxas bronzeadas, rígidas e redondas. penetrava com o
olhar por debaixo da saia como se não houvesse limite entre o olho e o sexo,
como se o tecido fosse inútil véu que apenas ostentava a cura para um desejo
que ele, não se sabe se pelo presidente equatoriano, ou pelo vinho de dionísio,
havia despertado de maneira grande e forte... delicadamente sufocante.
ela prolongava o assunto como se o desejo
do olhar dele a tocasse, fosse as mãos do moço penetrando por debaixo de
sua saia, desabotoando o feixe do sutiã ... então ela, sem ar, buscava
palavra a palavra, de oração a oração, um novo assunto. não se importava que
ele não retribuísse à conversa. queria que ele continuasse com o olhar firme em
suas pernas, profundo e profundo. no início ela conseguia atar as orações com
conjunções, depois, quase em soluços ouvia-se apenas pequenos sintagmas de
assuntos, sussurros e contextos inexpressivos diante a uma respiração, de
ambos, arfantes e desesperada.
o café jazia inerte na xícara, o vento deu
trégua às flores, inclusive às mais ousadas. não se via mais o velhos.
"mais café?" em tom forte a garçonete fez seu trabalho. é comum que
se faça consumir ou se faça ir; garçonetes não estão preparadas para
conversas demasiadamente longas, quer sobre política, quer sobre quaisquer
assuntos. ela não quis. levantou-se, suada e estranha. amiga. mais amiga,
talvez. ele ficou e pediu uma terceira xícara.
ramon c/ um café quente e três xícaras./
jan-2013.
Genial...
ResponderExcluirEta que conversa mais bonita.
ResponderExcluirLindo texto ,menino.